sábado, 22 de janeiro de 2011

FORNERIA QUINTANO


Esta é uma oração ao tempo. Tudo nesta resenha se trata de minutos, horas, dias, semanas, meses. Seu Roque Gourmet chega à Forneria Quintano três dias após a reinauguração do estabelecimento amadeirado em uma esquina do Parque Cruz Aguiar, no Rio Vermelho. Três garçons estão na porta conversando à espera de clientes. Já passa das 19h e a fome é um elemento a se considerar nessa crônica sobre espaço-tempo. 
O  pedido mais coerente diante da urgência estomacal é por bruschetta, aquele tira-gosto que nunca tem receita definida e cujo único consenso entre os restaurantes é de que deve ter pão (não necessariamente um padrão, já que alguns servem um bolinho macio e saboroso, enquanto outros se resumem a reciclar a torrada seca do couvert anterior). O pedido de entrada fora acompanhado por um chopp, servido na mesa quatro minutos depois. Mais dez minutos e pratos e talheres posicionados.
Neste intervalo, aquele papo para ludibriar a produção de suco gástrico. Os garçons também conversam, já que a chegada de clientes em um sábado à noite parece não ser a vocação da casa. Noite de sábado na Forneria Quintano é mais ou menos como segunda-feira na Câmara dos Deputados: desabitada como um feriado nacional. Trinta e cinco minutos depois, tomamos a liberdade de interromper o papo dos garçons para, assim, delicadamente, sem ofensas, lembrar que as entradas não tinham sido encomendadas para os nossos netos e que os corpos dessa encarnação ainda precisavam ser alimentados. 
Três minutos em seguida, o garçom informa que também reclamou com a cozinha e que "estava saindo". E assim, 57 minutos depois de uma ingênua solicitação, os seis pedaços de pão desembarcam na mesa. E eles não valeriam mais do que 60 segundos de espera. São torradas embebidas em azeite cobertas por tomates picados, úmidos, quase em pasta, sem qualquer sabor e a mínima inspiração.
Depois de pagar quase 30 reais por esse fiasco em forma de couvert, ainda dá pra ouvir: desculpe qualquer coisa, volte sempre. Não é um plano para os próximos anos. Talvez, nunca mais.

COTAÇÕES
Atendimento: @@
Preço: @@@@
Sabor: @
Localização: @@@
Ambiente: @@

FORNERIA QUINTANO
Rua Ilhéus, 241, Rio Vermelho
Fone: (71) 3335-3040

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

ME GUSTA

Uma citação célebre na Bíblia é que, depois do sétimo dia, Deus, muito satisfeito com a grandiosidade de sua criação, resolveu descansar. Provavelmente para comemorar aquele momento orgulhoso de mais nada a fazer - só a aproveitar - ele tenha inventado também a música caribenha. Com certeza, nesse instante de puro deleite não estava incluido o guitarrista Santana, porque se o mexicano Carlos também tivesse no pacote seria prova da extinção do potencial criativo do onipotente. E este rápido preâmbulo é para falar do prazer de visitar o Me Gusta, um restaurante mexicano completo. Principalmente se você der sorte e não tiverem colocado o DVD de Santana no telão no dia em que você for.
Por critérios estritamente gastronômicos, o Me Gusta representa aquilo que economistas costumam chamar de fração ideal entre custo e benefício. De entrada, vale pedir os nachos com o molho de guacamole, ou um tipo de vinagrete, que por algum feitiço resolveram chamar de pico de galo.
Vale a pena arriscar em um tamale, um espécie de "mini abará", muito bem temperado e feito com mais apuro do que os bolinhos produzidos em série por qualquer baiana de acarajé. Há possibilidade de escolher sabores no recheio, como carne de porco, carne moída e frango, tudo em prato bem decorado e deliciosamente condimentado. O preço é quase o mesmo de um acarajé.
Os pratos são parecidos com qualquer outro restaurante mexicano que você já tenha ido. A diferença é o atendimento.
Chegando ao Me Gusta, procure o garçom o Manoel, que vai te tratar com um sorriso envergonhado e a dose ideal de intimidade. Na segunda vez, ele já vai procurar saber como você passou de Natal e Reveillon, mas tudo sem excesso de intromissão. Ele é um dos cinco concorrentes ao prêmio Seu Roque 2010, no quesito atendimento. Faça como Larissa Luz (a cantora do Araketu) e Alessandro (o cantor do Olodum), que também preferem Manoel como cicerone de seus apimentados tacos e margaritas. Com essas credenciais, ele tem muito a oferecer em termos de sabores, mas não se encante pela proposta de uma cerveja com tequila. Você vai terminar provando uma variante de Skol, com sal na borda e limão, mas pagando o equivalente a uma caixa de latinhas nacionais.
Há também uma promoção de roskas em dobro, mas que parece ser eterna. Dá quase para ter certeza que não se trata de um marketing casual (às terças e quartas), mas de uma oportunidade eterna que, no entanto, não aparece no cardápio. Mas pode acreditar, se você pedir a promoção, ela virá. Esta é mais uma que só Seu Roque Gourmet oferece a você.
Em termos de preço, você pode jantar com um acompanhante (comidas e bebidas), com o valor parecido ao que você iria desembolsar por uma visita técnica de manutenção do seu micro.
A proposta de sobremesas do cardápio é daquelas que você começa a comer já com os olhos, lendo os ingredientes e salivando por chocolates e bananas flambadas. Vale experimentar a panqueca recheada por creme de nutella e morango, promovendo um final de refeição devidamente adocicado.
COTAÇÕES
Preço: @@
Sabor: @@@@
Atendimento: @@@@
Localização: @@@@
Ambiente: @@@@


ME GUSTA
Rua Juazeiro, 110
Rio Vermelho, Salvador
Tel.: (71) 3344-1091 / 3492-1257

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

MIAU ESPETINHOS


Quando bate aquela fome e você percebe que está de sandália Havaiana, a dica é apelar para o Quarteto Fantástico (batismo carinhoso dado pela equipe de Seu Roque Gourmet, para as deliciosas iguarias do Miau). Os espetinhos de pernil suíno, cupim, bode e misto, acompanhados por uma cerveja, vão fazer você desembolsar R$19,30 ao final da refeição. Recomenda-se pagar com uma cédula de R$20 e como cortesia não esperar troco do brodinho. Ele não vai se sentir ofendido nem um pouco com a gorjeta de 70 centavos.
A decoração é bastante exótica, com paredes devendo reboco e um imenso salão nos fundos para a mesa de sinuca. Nem David Bastos conseguiria projetar com tanta sutileza um cenário estilo Tropa de Elite.
Se você sentar e não quiser cerveja é bom avisar de imediato, porque o normal é o garçom já trazer carinhosamente uma gelada no respectivo isopor, antes mesmo de ouvir seu pedido. O espetinho vem acompanhado por uma farofa rica (em manteiga e cebola) e uma salada vinagrete, cujo principal ingrediente é a pimenta de bico. Esta pequena amora ardente não apresentar a queimação tradicional, mas é ligeiramente picante com algo adocicado no sabor.
Quando a equipe do Seu Roque Gourmet vai três vezes em uma semana ao Miau é sinal de que há uma recomendação tácita aí. Por uma falha jornalística, ou excesso de apetite que faz a barriga arder e esquecer as convenções sociais e profissionais, não chegamos a perguntar o nome do onipresente garçom, que a depender do grau de intimidade com os clientes, pode ficar sentado na mesa discutindo as notas aromáticas do Carlton ou do Goudan.

COTAÇÕES
Preço: @
Sabor: @@@@
Atendimento: @@@@
Localização: @@@@
Ambiente: @@



 
MIAU - Espetinhos
Alameda Benevento, s/n°
Parque Júlio César, Pituba

sábado, 8 de janeiro de 2011

BAMBARA


Principal espaço de happy hour com cenas de involuntário standup comedy em Salvador, o restaurante é um prato cheio para o riso de canto de boca (com trocadilho, por favor). É lá que você e seu acompanhante (sim, não é viável ir sozinho porque se perde o essencial: a chance de comentar com alguém o magnetismo erótico da dança de salão do casal que amanhã tem consulta com o geriatra) vão experimentar pititingas ao molho rosé, pasteizinhos de carne e queijo, frango a passarinha e roskas dobradas como se estivessem dentro do set de filmagem de Chega de Saudade.
"Veja só, aquela Darlene Glória de bojo amplificado está com os sentimentos inclinados por Stepan Nercessian, cujo ritmo cardíaco vai na frequência da sinuosidade de Camila Pitanga". Essa seria a sinopse de um acadêmico com pretensões a estudioso do cinema nacional e aquele cachecol empoeirado de quem coloca teoria até sobre a temperatura ideal do chopp. Mas quando estamos no Bambara, a gente diz é assim: Porra, aquela coroa que botou silicone nos peitos tá dando em cima do cachaceiro, mas ele só fica olhando pra piriguete que está atrás da cliente.
Como este espaço pretende ser um guia gastronômico não vale a pena ficar recaindo em descrições da revista Piauí. A ação de marketing garante que o buffet de petiscos é grátis, apenas pagando pelo couvert artístico. Mas é melhor para a autoestima confiar que vale mais a pena pagar os 11 reais pelo tira gosto do que pela voz e violão.
Seu Roque Gourmet experimentou apenas a mesa de acepipes que some às 20h30 com mais precisão do que um ônibus londrino, e onde a carne do sol parece ter sido frita no mesmo óleo do pastel. Mas vale a pena participar daquele tumultuado espetar de garfos em busca do penúltimo bolinho de queijo ou a colherada pelo caldo de sururu, cujo zinco pode ser decisivo para os planos da noite. Se é bom? É. Mas desde que você esteja buscando aquele jantar com direito a risadas pelos próximos dois dias.

COTAÇÕES

Preço: @@
Sabor: @@@
Atendimento: @@@@
Localização: @@@@@
Ambiente: @@@

BAMBARA
Av. Octavio Mangabeira, S/N, Jardim de Alah
(71) 3342-0481
Happy hour, com buffet grátis, de domingo a quinta, até 20h30